maio 16, 2009

Divórcio



Mês de maio, mês das noivas, mês do meu divórcio.

Parece brincadeira do destino, gargalhadas dos deuses, ou uma brincadeira do demônio, quando a maioria casa eu descaso nesse mês, mês, meio que destinado as noivas, as jovens românticas que sonham com o véu, a grinalda, o vestido de noiva [quer coisa mais gostosa que vestido de noiva?], o meu foi sensacional, feito pelas lindas mãos de minha mãe e bordado com 3 mil pérolas, por mim, e com um véu de tule francês com 3 metros de comprimento e decote tomara-que caia, que quase fez minha mãe morrer, cada dia que eu chegava em casa do serviço, tinha uma manga nova pro vestido, e eu 'não mãe, não quero mangas'... e não teve mangas, casei em novembro, calor, tinha belos seios, pra que manga? pra que esconder algo lindo?, pra que ser 'igual' as moças da época que casei? Ah! não né, me poupe, pelo-amor-de-deus.

Quis ser original e fui, na época o bouque da noiva tinha que ser 'cacho de uva', e o meu foi redondo, com orquídeas, e mais umas florzinhas pequeninas e coloridinhas e com uma delicada organza bordada, no cabelo flores de seda pura que eu mesma fiz, que combinava com mais flores que foi colocado na parte lateral do vestido, um vestido maravilhoso, que não 'caiu de moda', porque de 3 modelos, fiz um, maravilhosamente original, diferente, que foi comentadíssimo durante muito tempo depois...

Mas, falando do divórcio, foi estranho assinar um papel, sem flores, sem vestido branco, sem chapéu de noiva, sem luvas ornamentando os braços, sem padrinhos sorridentes, sem mãe, sem pai, sem família, não teve bolo, nem fotos, nem o arroz jogado pra dar sorte [podia ter não é?] pro recomeço de ambos...

Mas não teve nada disso, eu fui bem vestida, mas com a sensação de medo e obrigação de 'indo pro Colégio tomar vacina'.

Coloquei um colorido vestido, mas optei por um sapato sem salto, maquiagem leve, cabelo arrumadinho, um colar, brincos, e um 'ar alegre', afinal já sabia que não tinha mais jeito de reconciliação, e nem dava mais pé, mas graças aos bons ventos, o bendito divórcio foi consensual, sem gritos, sem badernas, sem 'panelas' atiradas no 'corredor da morte'.

A escrivã, uma senhora muito elegante, perdeu a certidão do casamento [a atual, porque a antiga, não servia], e ela perdeu no cartório, uma coisa de louco, eu perguntando pro meu advogado:
---- Você já passou por isso antes?
---- Não [ele me reponde atônito]

Enfim, algo que duraria uns 15 minutos, durou 1 hora e meia, e pasmem não foi achada a certidão, então a escrivã, ligou pro cartório onde casei e consegui uma outra certidão pro dia seguinte.

Então, nos despedimos dela e eu com a pulga atrás da orelha. Meu Deus, e se some a papelada toda?

A escrivã pediu desculpas e tal, dizendo que nunca havia acontecido aquilo, mas gente, que coisa mais maluca né? Como confiar? Bom eu, meu ex- marido, as testemunhas e o advogado, não tínhamos escolha, tínhamos que confiar que as papeladas iam correr [mas tomara que não 'corressem' tanto ao ponto de não serem mais achadas]

Enfim, eu estava livre, descasada, não mais separada, e sim D I V O R C I A D A !!!

Sai do Cartório de alma leve, abri os braços pro céu e disse:

---- Estou divorciada!!! Obrigada Deus!

Sabe nunca quis casar, minha mãe ficava louca com isso, porque eu dizia que não iria casar!
Que ia ter uma filha, e não iria casar, mas casei. Teve momentos ótimos e uns não tão ótimos.

Enfim, casar é uma armadilha das boas, porque a gente acha que é um conto de fadas maravilhoso, mas não é! A chatice do dia a dia, a mesmice do cotidiano, pra mim pelo menos foi horrível.

Nasci com a alma livre demais, pra ser esposa!

Bom, a vida nos oferece escolhas, fiz as minhas, cada um fez as suas e agora é etapa nova.

Vida novinha em folha, um caderno aberto e escancarado, com folhas de papel da melhor qualidade, e o filme de minha vida passada, encerrada, com direito a the end, mas daqueles 'the end' onde o filme deixa uma sensação boa, de leveza, de grandeza, de F E L I C I D A D E.

TEXTO: Solange Mazzeto
IMAGEM: desconheço a autoria

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