abril 06, 2010

Com licença poética - ADÉLIA PRADO

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

2 comentários:

  1. Drummond não esperava por essa.
    Poema de Sete Faces foi um dos primeiros poemas que analisei quando cheguei na faculdade... Esta paródia foi bem realizada pela poeta. Ela só foi um pouco hostil com nós - homens. Mas o pior é que merecemos...

    Abraço, Solange!

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  2. rsrs, não sei se todos os homens merecem, mas a Adélia é fabulosa!

    abraços

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