abril 30, 2012

Parêntese

por mais que ele quisesse prestar atenção nas palavras seus olhos corriam pra delicadeza da pele dela e então, ele se aprumava, e tentava em vão ouvir, o que a voz dela dizia mas sua retina se detinha na boca rubra do batom cereja que ela usava e que combinava tão bem com a alça do sutiã que conforme ela se mexia aparecia... TEXTO: Solange Mazzeto

março 02, 2011

Pedindo e despedindo





A manhã estava cinzenta num começo do mês de março, meu cérebro parecia inchado, eu não sentia a fome costumeira do acordar.

Sentia o ladrilho frio nos pés e minha alma parecia estar gelada e paralisada.

Minha boca flutuava em pedir e despedir, o céu da boca estava sem gosto, sem sal e a saliva de meus lábios secava vertiginosamente.

Meu anseio desaparecia, a gota do cheiro morria.

O vermelho de minha vida sumia numa escala de tom rosa desbotado.

O tom adorado de lavanda esmorecia e eu sentia o breu cada vez mais sufocante, e isso acelerava minhas batidas cardíacas.

Sentia um gosto estranho derretendo e escorrendo, era amargo e escorria de meus olhos já sem alegria, mas isso não podia ser meu, eu não mais queria, essa angustia de vida, esse desamor, essa insanidade me adoecia, o violáceo laço se rompia, já era tempo de recomeçar, já estava no tempo de respirar e colher o que semeara. Jazia o réptil, morria a isca e o dólar apodrecia.

A luz intensa e prateada rompia a barreira de dor e aprisionava as tropas da escuridão.

Meu ser respirava melhor, ainda sofria, mas abraçando a dor, sorria.


TEXTO: Solange Mazzeto
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dezembro 05, 2010

Luís de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada
Luís de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim coa alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

agosto 21, 2010

A ave



A ave é um símbolo de natureza arquetípica, dada a sua presença em todas as tradições e culturas. Basta pensarmos na pomba, na fénix, na águia, no falcão, etc.. É um dos símbolos mais poderosos da liberdade e da expansão da consciência. Dado que designa um ser que voa, é um símbolo utilizado para exprimir, de forma privilegiada, a relação entre o céu e a terra, entre o espírito e a matéria, entre o plano horizontal e o plano vertical.
Em grego, por exemplo, a palavra ave é sinónimo de presságio e de mensagem do céu. As aves simbolizam, pois, os estados superiores dos seres, daqueles seres que se libertaram do peso terrestre, e que assim ascenderam ao transcendente. Neste contexto, importa realçar a importância fundamental do voo, enquanto imagem da ânsia de ascensão, de verticalidade e de transcendência.
No Alcorão, o conhecimento espiritual, a verdadeira Sabedoria são designados por “língua das aves”. Na tradição hindu, a ave era um símbolo da amizade entre os deuses e os homens e, no Egipto antigo, representava a alma do defunto.
A pomba é, entre os cristãos, um dos símbolos da pureza, da paz, e a representação inequívoca do Espírito Santo. Recordemos que, no início do Génesis, o espírito de Deus se movia, como uma ave, sobre a superfície das águas primordiais.
A mais antiga demonstração da crença em almas-aves está, sem dúvida, contida no mito da Fénix. Designada como a ave de fogo, cor de púrpura (isto é, composta de força vital, solar), representava a alma para os egípcios. Segundo a lenda, após ter vivido muitos anos, a Fénix teve a coragem de se incinerar numa fogueira, regressando à vida mais bela e mais pura.
Os aspectos do seu simbolismo surgem aqui claramente: para que possa haver uma renovação da vida, é necessário que morram os aspectos mais negativos da psique humana. O homem novo só pode surgir quando tiver, em cada um de nós, morrido o homem velho.
Também a águia está presente em inúmeras tradições, simbolizando a realeza de Deus. É a rainha das aves, encarnação, substituto ou mensageira da mais alta divindade uraniana, e do fogo celeste, o sol, que só ela ousa fixar sem queimar os olhos. O ceptro de Zeus, pai dos deuses da antiga Grécia, era encimado por uma águia. Identificada com Cristo, esta ave exprime também a sua ascensão e realeza deste.
Na tradição iraniana, por exemplo, o falcão, ou a águia, simbolizavam o poder divino. Quando um rei lendário do Irão proferiu uma mentira, o poder divino abandonou-o sob a forma de um falcão. Nesse preciso momento, o rei viu-se despojado de todos os seus atributos, tendo sido, mais tarde, vencido pelos seus inimigos. E assim perdeu o trono.
Muitos dos aspectos aqui referidos mostram – embora de forma deveras sucinta – a importância simbólica da ave nas diferentes tradições e culturas de todo o mundo, pelo que podemos considerá-la um arquétipo. Daí a sua presença constante nos mitos, nas lendas e nos contos maravilhosos de todas as latitudes.

FOTO: Olhares

maio 10, 2010

Outras idéias



simples idéias
espaçadas na calçada
um passo aqui e outro distante
no meio do poço
e na sapiência

idéias do vento
que traz amor
e conhecimento

toque de vida
burla a pesquisa
viver é suave
diz a revista

dentro de si
há o botão
na ponta da lança
...
esperança


...

texto by Solange Mazzeto


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